Indecifrável.


Juntos, ali, no adocicado silêncio do entardecer. Ela com a sua câmera na mão, e ele envolvendo-a em seu abraço carinhoso. Não era algo que eles poderiam ignorar, tampouco que poderia ser assumido. Proibidos ao extremo. Ela guardava cada cheiro, cada cor, cada melodia, cada marca que as digitais dele deixavam na sua quente pele. Esfriava, tudo bem, eles estavam agasalhados; cada qual com o calor do corpo um, do outro. Exalavam algo. Algo considerado além. Além das barreiras impostas pela ignorância humana; uma sintonia incomum. Por tanto tempo estiveram sem se ver, e ele soube exatamente onde encontrá-la. "No calor dos braços teus", responderia ela sem a menor vergonha do que sentia. Ele, por sua vez, tinha algum receio. Sabe-se lá qual medo (?) era esse, ou precaução, é algo totalmente desconhecido; algo que nem ele reconhece. Viviam ali, no limite. Sempre querendo mais, sempre tendo o que consideravam suficiente.
Quando juntos, desprezam a presença de palavras; Ali elas não eram necessárias. Porém, ao prevalecer a distância, a ausência delas era como uma nova labareda em uma carne fresca que começava à ser queimada; ardia, destruía, dilacerava suas almas. Era preciso dizer algo, caso contrário seus mundos desabariam. Brincavam, bobos, dando o melhor de si ao outro. Apreciavam cada raro e simples instante que passavam juntos. Não pensavam no que deveria ter sido dito ou feito após os encontros. O que haveria de acontecer, aconteceu, pronto; sabiam que lamentar não levaria à nada, além de sofrimento. Costumavam ficar assim: Algum tempo juntos, muito separados. Sabendo aproveitar a presença daquele alguém tão prezado e inconstante em suas vidas. Era algo indeterminável. Um sentimento sincero, no entanto, indecifrável.

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