O desconforto que ocorre dentro de mim faz com que eu queria aderir a brincadeira. Mas não há como brincar, nem com quem, muito menos onde; tampouco existe porque. Sinto, sinto muitas coisas e não consigo separá-las, diferenciá-las. Há um oceano furioso brincando por dentro, não pude evitá-lo e não consigo vomitá-lo. Quero que ele suma antes que as navegações naufraguem; não quero restos em mim: gosto do inteiro. Seja ele novo ou estragado. Gosto do estrago, ele é fruto de uma inquietude. É ela quem gera tudo isso. A dúvida só a faz crescer. E cresce, cresce, cresce... Em um ciclo vicioso que não se atreve a terminar, rejeita o aborto. Mantem-se vivo, incomodando qualquer mínima partícula minha. Causando reações que nem mesmo a morte causaria. Tento entrar na dança, mas ela é frenética e gera arrepios, transtornos. Não quero dançar a música de outrém, quero a minha, e só. Os dedos ditam o ritmo e diminuem as batidas de um tambor que antes ricocheteava fortemente... E a agonia cede, é levada, vai parando, perdendo seu próprio ritmo ao se deixar envolver pelo outro. Até que some por inteira, não deixa rastros, não sobrou nenhuma célula sequer de toda essa mutação. Sou outra, renovo-me a cada instante, sofro de desconfortos e conflitos constantes, as mudanças não param, o tempo não para, ele nem quer existir para mim, e a cada turbulência de sensações me faço novamente. Às vezes nasço, uma, duas, três vezes ao dia; vez ou outra o aborto é espontâneo, sem mágoas, sem vestígios... E a mutação continua acontecendo, sempre mais, interrupta. E não adianta gostar do que eu era, já foi, passou.
antes de 3h2m - 21/7/12
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